quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Azul e Encarnado


[...]" Está feliz, não se importa de encerrar esse capitulo de sua vida passada, não se importa com a sacola enchendo – se de vestidos que ele nunca mais vai pôr, vai dar para as suas colegas que ainda têm um futuro nessa profissão, que ela agora quer espaço para a roupa do seu homem, seu homem! , nunca pensou chegar um dia a dizer assim com orgulho e alegria, que ele vem viver com ela, mas não pensa em ser seu dono, é seu carinho,seu berço , seu amigo, seu irmão , é seu verdadeiro amor, já não teme que ele fuja. Ah! Irene, que loucura,bem você que era tão dura, desencantada de tudo, que de todo amor zombava, como é que agora ficou assim tão tola e singela, acreditando em enredo que até parece novela que a gente sabe que é falsa , feita de artista fingindo em casas de papelão ?Irene ri de si mesma, mas sabe que o sentimento que hoje tem é verdadeiro, chegou tarde mas é bom e ela quer goza-lo, até a ultima gota."[...]

2 comentários:

  1. ENTREVISTANDO PERSONAGENS DE O VÔO DA GUARÁ VERMELHA

    REP - Rosálio, as pessoas costumam conceituar as coisas, defini-las, segundo suas experiências, seguindo determinados padrões. Nesse sentido, somos induzidos a dividir o mundo em certo e errado, feio e belo, bem e mal. Para você, existem pessoas belas e pessoas feias?
    ROS - A mulher era tão feia, que confesso, me fez medo. Eu saí dali cismado, pelo caminho pensando na beleza, o que será? existe nas coisas mesmas ou nos olhos de quem vê?, onde eu só via feiúra, João dos Ais ficava aéreo de ver tanta formosura" (p. 93)

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  2. ENTREVISTANDO PERSONAGENS DO VOO DA GUARÁ VERMELHA

    REP-Rosálio, sabemos o quanto é difícil para uma pessoa que nunca viajou de avião passar por esta situação.Como você se sentiu ao viajar e finalmente livrar-se dos perigos da vida de garimpeiro?

    ROS-Confesso que tive medo,meu corpo se arrepiou, meu estômago encolheu e as tripas se remexeram quando o bicho disparou,tremendo e empurrando a gente contra o encosto da cadeira, fazendo aquela zoada que deixava a gente surda e, de repente, eu senti que não tinha chão embaixo, olhei para a janelhinha, vi a coisa ficando cada vez mais pequeninha, mas o mundo, no geral, ia se mostrando todo, cabendo numa mirada léguas e léguas de mundo. Difícil de acreditar que eu estava ali voando, queria falar com alguém que me confirmasse aquilo, que me parecia sonho, parecia uma mentira de minha imaginação, meu coração foi inchando de uma emoção sem tamanho e as palavras de alegria querendo sair da boca, olhei e não vi ninguém que se importasse comigo nem com aquela maravilha que eu via lá de cima, tinha gente já dormindo, outros olhando pro teto, outros bebendo cerveja, outros dando gargalhada de alguma piada besta, sem ver o mundo lá fora, e eu fiquei muito intrigadopois não parecia em nada que eles fossem todos cegos. Me calei, não despreguei mais os olhos da janela, vi oca de índio no mato, vi a floresta sem fim, vi rios, praias, corredeiras e, às vezes, um barquinho navegando ali, sozinho, deixando um rastro de espuma branquinha riscando um rio. Mas o avião subia, subia cada vez mais, e de repente o que via lá em baixo foi sumindo e me vi boiando dentro de um capucho de algodão, compreendi que era uma nuvem, aí o susto foi grande!, pensei: com mais um pouquinho ele vai bater no céu, o avião se despedaça e eu vou chuver na mata, já vendo o sangue encarnadotingindo a copa das árvores. Fui ficando agoniado, queria avisar alguém pra pedir ao motorista que parasse de subir, mas com o medo que eu tinha minha garganta secou, meu corpo paralisou e nenhuma voz saía. Achei que ali eu morria, mas me consolei pensando que já estando nas alturas a mão de Deus me pegava com maior facilidade, então fiquei muito calmo, rezei uma Ave-Maria e esperei pelo estrondo, até que vi, assombrado, que as nuvens foram passando e eu estava acima delas, embaixo um colchão macio como de penas de gnso, e mais acima o céu azul, azul de doer na vista, e o avião bem tranquilo, subindo, subindo mais[...].

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